Sobre

Reunindo uma série de textos escritos por mim, Janaína Sícari, Palavras de Uma Menina vai muito além de um blog: é o apêndice de minha alma de escritora. Amadores ou não, esses textos refletem quem sou e o que penso.

SOBRE O CAOS E ALGO NOVO – A MUDANÇA ESPERA QUE SE MUDE

Inspiro ares parados, atmosfera confortada, quarto fechado de mim mesma. Minhas paredes estão cheias de bolores – nem a umidade faz bem a esse ambiente em que me tranquei. No entanto, esses ares não são pesados. De um tempo para cá – desde que eu comecei a nota-los – eles têm se tornado cada vez mais leves. Talvez que perceber que algo está errado seja o primeiro passo. E está. Há algo por aqui de muito errado. Não é certo sentir o ar tão pesado nas costas e tão tóxico aos pulmões. Não é certo permitir dentro de mim tantos bolores e poeira. Mas, agora, é como se tudo isso flutuasse numa dança desconexa.
Caos. Caos e o sentimento de emergência da mudança. Ah, como é necessário que se mude! Bagunçar a bagunça da qual se é feito, com a qual já se está tão acostumado que até parece o estado normal das coisas, para então ajustá-la. Sim, sinto latente a mudança. Ela está sorrindo para mim quase que assustadoramente, mas eu não tenho mais medo: encaro-a nos olhos insanos e sorrio de volta, lançando o desafio. Ela urra e chacoalha as mãos cheias de unhas compridas, mas depois abaixa a cabeça à minha vontade.
A mudança está aí, esperando que se mude. De olhos baixos, agora que já não a temo. Suave, agora que a vejo como necessária.
Também a bagunça foi necessária ao seu tempo – como poderia eu entender que a ordem era ordeira se não houvesse aquela dorzinha no peito quando eu inspirava aqueles ares? Foi bom, muito bom, ver as heras venenosas subirem altas dentro do meu espaço, pois agora as eras suaves serão bem-vindas e abençoadas da maneira que se deve.
Basta apenas arrancar pela raiz os maus costumes, os pensamentos que me colocam para baixo, as atitudes que não me servem mais. Para a mudança, agora que dela não tenho mais medo, basta apenas que se mude. Ela sorri, agora, complacente.

Com amor, ponho em execução meu plano de reforma. Com amor, esfrego as paredes e tiro o lodo de mim. Com amor, arranco as heras. Com amor, abro a janela – para ver o dia lindo lá fora, para ver a vida linda aqui dentro, para inspirar um ar inspirador. Com amor, deixo a porta aberta para o amor. Com amor, sorrio à mudança. Com amor, amo a mim. 

O grito da América – sobre como os portugueses não conquistaram o coração de uma mãe

Clara Nunes canta sobre um soluçar de dor que, segundo ela, ninguém ouviu. Eu não estava lá, mas o ouço muito bem até hoje. Seus ecos arrepiam-me os pelos do braço e insinuam lágrimas nos olhos. E tanto faz esse meu sentimento, não devo ser eu o foco das minhas palavras. O foco é o soluçar.
Antes fosse apenas soluçar, eu ouço mesmo é um grito. Um desespero, uma dor tamanha que rasga a entranha daquele que sente.
Eu ouço uma mãe a gritar pelo filho. E eu quase vejo o desespero de seus olhos negros bem abertos. E eu quase sinto a mão que rasgou seu coração tentando rasgar a minha alma. Mas, não, o foco não é o que eu sinto. O foco é o coração dessa mãe – e o canto feroz da perda.
Feroz, selvagem. Existe mesmo o conceito de selvageria quando se trata de amor, de amar? Não seria todo amor meio selvagem e toda perda não despertaria essa ferocidade, essa feracidade, esse grito desolado? Não, não. Os civilizados amam com mais graça – e aceitam a perda com mais desdém. Quisera essa mulher que fosse apenas perda: ela conhecia a morte e sabia que ela aconteceria.
Mas ela não conhecia o homem branco. Ela não conhecia a arma de fogo. Ela não conhecia isso de ser cruel só por ouro. Ela vivia em um sistema de vida tão mais brando, e que tão melhor ao seu coração se adaptava... Esse sistema mudou. Foi invadido. Mas como invadir o coração de uma mãe?
Eles tentaram quebrar seus ídolos. Eles tentaram se fazer passar por deuses – deuses que traziam a mensagem de um Deus estranho, que eles não entendiam muito bem. Eles tentaram despedaçar sua própria psique e seu jeito de ver o mundo. Eles vinham de outro mundo? Ou de outra terra? Outra terra? E por que é que eles descobriram aquilo lá, se essa mãe já vivia lá há tanto tempo? Se seus bisavós tinham bisavós que tinham bisavós que já sabiam que aquele chão existia?
Eles quebraram seus ídolos.
Agora tentavam quebrar seu coração.
Alienar sua liberdade.
Essa mãe não sabia o que era liberdade porque nunca teve oportunidade de conhecer qualquer um de seus antônimos. A liberdade lhe era tão natural que sobre ela não precisava falar, não precisava pensar, não precisava nem saber que ela existia. Ela era livre, exatamente por não entender nada sobre tal conceito. (Nós que somos cheios de amarras é que temos a necessidade de falar o tempo todo sobre essa tal liberdade).
Quando tentaram sujeita-la, ela soube o que era a liberdade, mesmo sem colocar isso em palavras. Como todo o resto que fugia à sua psique, ela sabia que algo estava errado, diferente. Ela sabia que tinha que batalhar por algo.
Ela resistiu. Seus irmãos resistiram. Seus primos resistiram. Seus filhos resistiram.
Por que se submeteriam, afinal de contas? Isso não fazia parte de seu sistema de crenças.
Embora sua inteligência não conseguisse acompanhar tudo o que lhe acontecia, – afinal, seu mundo era outro, era anterior à essa “descoberta” – pôde sentir, em seu mais profundo, a crueldade. Eles queriam escraviza-la, prender sua alma em gaiolas, como faziam aos pássaros. Ela não se rendeu. Eles lhe mataram os filhos.
Em sua frente. Para que visse e se sujeitasse.
Mas ela apenas gritou.
Você pode ouvir seu grito?
Pode imaginar sua dor?
Hoje, um dia depois da comemoração hipócrita feita por brancos que ignoram o que ainda sofrem os poucos que sobreviveram ao genocídio – ou tapam os olhos para tal realidade, porque pensar na dor alheia continua não sendo muito lucrativo –, eu ouço esse grito e tento imaginar sua dor. Apenas tento, porque não sou mãe e nunca conseguiria entrar por definitivo na alma de um nativo e em sua mente, que se projetava de forma tão diferente, por viver de modo tão diferente. Tentando, percebo que o grito dessa mãe ecoa – e não apenas no que restou dessa gente. Ecoa porque a ganância continua a matar crianças sem piedade. Ecoa porque o mundo civilizado ainda não conseguiu abandonar a barbárie. Ecoa, ecoa.
Eu venho, com essas palavras, pedir compaixão – não importa por quem.
Escrevendo, venho fazer-lhes um apelo: que amem. E é agora um sublime sussurrar das memórias dessa mãe que me diz isso: amem, amem, amem!


Alguns quilômetros em palavras

Quero correr do que crio, fugir da energia que emano.
Quero distancia desses ares malditos que eu mesma expiro,
pois que quero inspirar uma aura diferente.

Quero criar paz e quero emanar alegria;
quero que as pessoas sorriam ao ver meu semblante.
Quero um querer que já pude e ainda posso,
mas por hora não está ao meu alcance.

Caminho lentamente,
mas a cada passo me aproximo
e o fora de alcance parece quase tocável.
Tocarei o meu querer com o impulso de caráter
que também o trouxe.
A cada palavra, um passo;
a cada subjetividade que explica a peculiaridade do meu sentir,
um quilômetro.

Avanço. Sim, avanço!
Avanço em direção a mim mesma
e com minhas próprias forças.
Faço das palavras minha magia e terapia
– são elas minhas ferramentas, meu veículo nesse avanço.

Assim, encontro em mim o que precisava.
Sano eu mesma minha própria solidão.
Eu me basto. Sim, desde já.
No caminho já me basto, pois que caminho.

Nunca pensei que posso ser feliz?
Tenho certeza.
E essa certeza me faz ser feliz desde já.

Só com esse texto, percorri um quilômetro e andei alguns passos.

SOBRE A COMEMORAÇÃO QUE DEVERIA SER LUTA – E PARA ALGUMAS REALMENTE O É

Nesse 8 de março não me dê rosas, dê-me respeito.

Obrigada, mas eu não quero seu presente, moço. E nem agradeço sua gentileza. Quero outro tipo de presente, quero uma gentileza que dure o ano inteiro. Quero que as ruas, que são hoje cenário colorido de rosas e sortido de sorrisos e palavras bonitas, sejam seguras para mim. Quero poder andar por aí à noite sem temer o homem que vem andando a passos largos em minha direção, sem receber olhares indiscretos que me deixam embaraçada, sem ter que ouvir cantadas que mais parecem vômitos de insulto. Quero poder por a roupa que bem entender, sem ter que ouvir “essa é vagabunda”, “ela mereceu” ou “quer provocar”. Quero que você, moço, entenda que nem tudo na vida de uma mulher tem a ver com o seu pênis (ele na verdade interfere muito pouco naquilo que faço). Eu não uso shorts para mostrar as penas, saia ou calça branca pra deixar ver a calcinha. Eu não passo maquiagem para aprovação estética ou para chamar atenção, é só que eu me sinto bem assim. E eu quero, moço, que minha irmã de luta que não usa maquiagem não tenha que ouvir que é falta de vaidade. Eu quero que parem de chamar cabelo curto de Joãozinho, porque a Joana também fica linda assim. Eu quero que os condicionadores parem de falar que vão domar meu cabelo rebelde, eu gosto dele bem assim. Eu quero que parem de me julgar por minha sexualidade: nem puta, nem santa.
Moço, eu não sou muito magra. Moço, ela não é muito gorda. Moço, mulher tem estria e celulite sim. E, moço, nosso corpo não foi feito para sua aprovação. Nosso corpo foi feito para nós o amarmos, independente de como ele é. Sem padrões. Ah, e eu sei que pode parecer chocante, mas ele é nosso, viu? Ele não é do nosso marido, e nosso marido não pode nos agredir. Aliás, homem nenhum pode! O corpo é meu! Não é do estado, para ele decidir se eu posso abortar ou não. Não é do patriarcado, para vocês decidirem que eu sou frágil e fui feita pra ser dona de cabeça. Nós somos plurais, moço. Nós podemos decidir por nós mesmas. Nós queremos voz. Por enquanto sussurramos por nossos direitos, mas um dia gritaremos!
Moço, eu estou cansada de ver meu corpo objetificado. Vendido como cerveja. Eu estou cansada da mídia usar minhas curvas para atrair consumidores. E estou cansada dos padrões que ela estabelece. Pra ser bonita eu não tenho que ser magra e branca. Moço, esse padrão de beleza é massacrante! E isso também é violência.
Moço, atrás de um grande homem não há uma grande mulher. Nós estamos cansadas de ficar atrás. E esse dia, para mim, serve pra lembrar isso! Não quero que as grandes marcas que me vêem como produto venham me prestar homenagens (que na verdade são insultos)! Não quero que um homem me diga na rua que sem nós ele não seria nada. Não quero que me digam que sou carinhosa, delicada, que nasci pra ser mãe. As mulheres são plurais, moço.

Que Ana Carolina me desculpe, mas nem toda mulher gosta de rosas. Eu gosto de respeito.

As Flores de Lisbeth

O pequeno apartamento de Lisbeth vivia adornado de flores. Elas vinham das mais variadas floriculturas da cidade, com as mais variadas frases penduradas, nos mais variados cartões. Lisbeth raramente lia os cartões - pedia para que o entregador levasse-os de volta. Ela sabia que, como sempre, a letra seria feminina e caprichada e a frase seria clichê. As flores, que geralmente... eram rosas vermelhas, ela colocava aqui e ali, por aí... Elas enchiam a sala, a cozinha, o quarto, a janela e a cabeceira da cama de perfumes unos. Era agradável viver ali. As flores eram bonitas, e bem serviam a Lisbeth.
Eram, todavia, vulgares.
A moça havia se acostumado com seu perfume, sua beleza. Eram ordinários para ela.
Assim como era uma rotina entregar o cartão sem dar a mínima atenção a ele.
Não que Lisbeth desgostasse das rosas - pelo contrário: adorava-as. Mas elas perderam o encanto, pois deixaram de ter sentimento. Os homens queriam conquistá-la pelas rosas, e não pelo que eram de verdade. A essência que importava à Lisbeth, no fim das contas, não era o perfume inebriante das flores, mas sim o espírito encantador de um verdadeiro cavalheiro.
Ela sabia: rosas não a conquistariam. Ela se orgulhava disso.
Mas as rosas nem sempre vêm com um cartão escrito por uma letra qualquer e trazendo um poema qualquer...
Era primavera - o mundo florescia. E foi então que floresceu, também, o coração de Lisbeth. A campainha tocou mais cedo que o comum. "O entregador deve ter caído da cama com os pássaros", ela pensou. Mas, ao abrir a porta de pijama e com o cabelo bagunçado, não teve que sentir vergonha de sua aparência, nem assinar uma listinha de entrega.
Havia uma rosa amarela no chão - sua cor preferida.
Sentiu falta do bilhete que não teve de jogar fora.
Sorriu; sentiu. Sentimento; encanto.
Não notou que se encantava.
Recebeu a rosa por vários dias seguintes: sempre muito cedo, sempre muito amarela, sempre sem entregador ou cartão.
E essa rosa, tão simples e tão singela, fez dela prisioneira.
Ser prisioneira de uma rosa (de um sentimento, de um encanto), fez Lisbeth sorrir mais. Acordava com a campainha - sorrindo. Levava a rosa para dentro - sorrindo. Colocava-a em um jarro com todas as outras rosas amarelas - especiais - sorrindo. Trabalhava - sorrindo. E quando achava que não havia mais sorriso para sorrir, nem riso para rir... Soltava uma gargalhada deliciosa ao vislumbrar as flores amarelas.
Um dia a tal rosa amarela não apareceu. Mas apareceu um bilhete que valeu. Dizia: "É bom te ver sorrir".
Lisbeth deixou-se conquistar por flores.
Casou-se três anos depois com um professor de matemática que tinha, no fundo da sua casa, uma pequena estufa, onde plantava rosas. Plantava porque sabia que elas tinham o poder de fazer sorrir.
Ele amava sorrisos. Mas amava muito mais o sorriso de Lisbeth - e por isso lhe queria sorrindo todas as manhãs.

E aí muda o céu

Digito palavras a esmo. As letras me parecem um conjunto sortido e divertido, com o qual brinco e renuncio. Renuncio à necessidade de fazer sentido. Percebo que nesse mundo meio avulso em que os olhos decodificam como que naturalmente uma série de simbolos esquisitos, o que menos existe é racionalidade - e é o menos necessário também. É claro, o processo de aprendizado é muito racional, insistente, com muita repetição e trabalho. Mas as crianças não vêem nada como se tratasse-se de um grande esforço, de modo que até essa etapa é natural. E que falar de todas as outras? Que falar da intuição com que se dilui em nossa mente algo que lemos? Que falar da ação do subconsciente em cada palavra? Que falar do sentimento que fica?
O sentimento que fica... Para mim, de toda essa brincadeira de lego, o mais importante é o sentimento que fica. Porque ele sempre fica. E não sei se quem gosta mais disso é minha mente ou minhas mãos. Pois que a mente se delicia e as mãos dançam com a caneta a procura da formação ideal, da mais sublime constituição de palavras.
É a alma, no entanto, o aparelho que mais entregue se faz ao processo (e também o mais necessario). Quem lê sem alma, não lê: apenas traduz em sua mente o significado do que está escrito, mas e o significante? E o sentimento? O sentimento só a alma capta. E com que fugacidade! Com que despojamento! Com que renuncia de todo o resto! Com que amor incompreensível! A alma consegue tirar de si o que há de mais belo, a partir das palavras, e o que há de mais terrível também.
E as palavras conseguem fazer da alma o que bem entendem. Uma palavra consegue pôr ou tirar tanto em algo e de algo que é capaz de mudar sua essência como quem brinca com um molde de argila. Minto: a argila continua argila, independente da forma que lhe dêem. E a cada palavra que a gente lê, a gente é menos a gente (a gente vira algo a mais).
Pode-se dar a uma situação o nome de implacável, ou o nome de sublime. Eu posso dizer que o céu é de um azul calmo, e você que é de um azul caótico. E aí muda o céu. E aí mudo eu, e aí muda você. Muda tudo, porque muda a palavra.
Palavra é magia, meus caros, e devemos todos ter cuidado com o que fazemos com ela. Eu fiz da palavra minha melhor amiga, fiel escudeira e companheira; eu fiz da palavra meu feitiço diário de amor e alegria. O que você faz da palavra? Qual palavra você dá à vida?

Irregular

"(...) num peito como o seu, o amor não reinaria como paixão comum."
(Edgar Allan Poe)

Subserviência era uma palavra que lhe causava arrepios. A personalidade de Lisa era cheia de irregularidades, sendo o relevo de seu coração cheio de picos e precipícios. Era um terreno tão perigoso que até Lisa evitava tal percurso, caminhando apenas pelas fronteiras e fugindo, com grande sentimento de estranhamento, a qualquer indício de mudança sentido por seus pés.
Um dia, porém, seu caráter cheio de nuances cansou-se de tudo o que era plácido e plano. Abandonou os vales e resolveu escalar montanhas. Qual palácio melhor para tal descoberta, senão seu coração? Mas ele também tinha precipícios e, descuidada, Lisa caiu em um desses. Essa é a história que cabe a mim contar-lhes nas próximas linhas.
Vivia em seu peito, no topo de uma alta montanha (mais alta que os Alpes, ou até mesmo que o Himalaia), um garoto de olhos claros, longo cabelo e uma lua desenhada bem no meio da testa. Ele usava uma capa escarlate muito comprida, que Lisa pôde enxergar de muito longe e que lhe encheu de muita curiosidade. Escalou a tal montanha mais rápido do que qualquer alpinista, mas, devo dizer, não sem muita dificuldade. Tudo o que circundava o garoto era muito - ele próprio era demais.
Quando Lisa chegou ao cume da montanha e pôde ver os olhos que, de longe, pareciam duas safiras, percebeu que na verdade eram vítreos: refletiam a paisagem ao seu redor - o precioso coração de Lisa.
O que parecia ser muito era tão pouco, que o demais ficou de menos e, decepcionada, Lisa continuou seu caminho, sem olhar para trás, a procura de terrenos ainda mais voluptuosos. Foi quando, imersa nos mais profundos pensamentos, ela caiu em um precipício.
Foi a melhor sensação da sua vida: é claro que dava um pouquinho de medo, um frio na barriga... Mas era como se voasse! Além do mais, quando atingiu o chão nem se machucou tanto - era um terreno macio.
Lá embaixo havia um garoto - pelo qual ela não havia procurado. Seus olhos não refletiam a beleza do coração de Lisa, mas sim a do próprio - sendo, portanto, ainda mais encantadores. Conversaram e descobriram ser aquele abismo queda comum dos corações afins. Conheceram um o coração do outro, e amaram o que viram.
Não eram meias alegrias se completando e se refletindo.
Não eram frutos da busca incansável pelo que não tinham.
Eram dois inteiros compartilhando alegrias e corações.
Lisa descobriu, enfim, o amor.